A Sala de Reuniões Secreta de Bruno Stael


Na sala de reuniões secreta de Bruno Stael, onde o universo se dobra em formas impossíveis e as paredes são feitas de livros nunca lidos, Stael estava em sua cadeira de couro desgastada, olhando para o vazio com um sorriso satisfeito. Um novo projeto tomava forma em sua mente, um conto sobre um reino submerso onde a água era feita de palavras e os peixes eram poemas esquecidos. Ele estava entusiasmado.

Bruno Bernardino entrou, com a cara de quem tinha acabado de perder o último pagamento do mês. Suas mãos carregavam uma pasta de papeis com números e dívidas que só cresciam. Ele lançou um olhar cansado para Stael, que parecia flutuar em uma nuvem de ideias abstratas.

Stael, o que você está fazendo agora? — perguntou Bernardino, puxando uma cadeira e se sentando de maneira tensa, tentando não se afogar nos próprios pensamentos práticos.

Stael brilhou os olhos.

— Imagine, Bernardino, um reino onde a água é feita de palavras e os peixes são poemas! Eles nadam em um oceano literário e falam em metáforas e aliterações! O protagonista é um poeta amnésico que precisa juntar as palavras quebradas para encontrar o caminho de casa!

Bernardino olhou para ele com a expressão de quem acabara de ouvir uma explicação científica sobre viagens no tempo de um gato. Ele respirou fundo e ajeitou a pasta.

— Tá… e quem vai pagar isso? — perguntou, já imaginando a impossibilidade de transformar poesia líquida em números e lucro. — Sabe, esse projeto "poesia líquida" é bem bonito, mas como vamos transformar isso em um produto? As contas não pagam sozinhas, Stael.

Stael virou-se para a parede, onde a sala estava cheia de quadros imensos com pinturas surrealistas de mundos que nunca existiram. Ele suspirou.

— Poxa, Bernardino, você só pensa em dinheiro. Não entendeu? A água é a poesia! O reino é o conto! Não precisamos de mais nada. O mundo vai se encantar com isso.

Bernardino levantou as sobrancelhas, se apoiando na mesa.

— Claro, o mundo vai se encantar. Só precisamos de um plano de negócios, uma estratégia de marketing, e talvez… eu não sei, um público-alvo?

Stael olhou para o teto como se esperasse uma resposta divina. Quando a sala não respondeu, ele deu um sorriso torto e se virou para Bernardino.

— Então, que tal uma campanha de crowdfunding para trazer os peixes de palavras à vida? Quem sabe conseguimos vender umas edições limitadas de "poesias líquidas" engarrafadas para os românticos de plantão.

Bernardino esfregou a testa, já aceitando que teria que dar algum tipo de solução prática. Ele olhou os papeis novamente e começou a anotar.

— Vou calcular quanto custa "engarrafar poesia". E você vai precisar de mais do que uma boa ideia para convencer os investidores de que "poemas nadando no mar" podem ser rentáveis.

Stael piscou os olhos e assentiu, como se o simples fato de Bernardino aceitar a ideia já fosse uma vitória.

— Tá certo. Mas a arte será salva, Bernardino. E quando você ver aqueles peixes de palavras nadando no crowdfunding, vai entender que a arte também paga as contas.

Bernardino suspirou fundo, um sorriso de canto de boca surgindo, ainda incrédulo, mas pronto para entrar no jogo.

— Vamos tentar. Mas se você achar uma maneira de fazer poesia líquida pagar aluguel, me avise primeiro.

E assim, em meio a contas e contos, o mundo surreal de Stael encontrou seu lugar entre os números, como sempre acontece. A realidade nunca soube muito bem o que fazer com a arte. E a arte, por sua vez, sempre soube o que fazer com a realidade.





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